Um Sistema contínuo de segunda ordem é o Sistema dinâmico contínuo generalizado para sistemas mais gerais, de segunda ordem. Possibilitando reduzir qualquer sistema de equações diferenciais ordinárias a um sistema de várias equações, autônomas e de primeira ordem.
No problema da queda livre de um objeto, para calcular a altura em função do tempo, é preciso resolver a equação diferencial
onde é obtida a partir da equação que já resolvemos no capítulo anterior
Aplicando o método de Euler, teremos que encontrar duas sequências a partir de dois valores iniciais conhecidos:
usando as relações de recorrência:
onde é um pequeno intervalo de tempo e a aceleração calcula-se a partir de uma função conhecida, que depende de
O método do ponto médio consiste em usar a média entre e para calcular
ou, substituindo a expressão para na segunda equação:
O movimento de um projétil, sob a ação da gravidade é um movimento plano, no plano definido pela gravidade e pela velocidade inicial. A posição, velocidade e a aceleração instantânea são vetores com duas componentes, por exemplo, e , que verificam duas equações diferenciais
Essas equações são uma generalização vetorial das equações . Assim, o método de Euler também pode ser generalizado facilmente, introduzindo vetores nas equações
Essas equações resolvem-se em forma iterativa, começando com um valor conhecido para os vectores posição e velocidade iniciais.
Um sistema autônomo de segunda ordem consiste em duas variáveis e que dependem do tempo, e duas equações de evolução, independentes do tempo:
O espaço de fase desse sistema é o plano , formado pelas duas variáveis de estado.
O vector , construído a partir das duas funções nas equações de evolução acima, é a ``velocidade com que o estado se desloca no espaço de fase. A velocidade de fase em cada ponto do espaço de fase representa-se por um múltiplo positivo do vetor nesse ponto. Usa-se um fator de escala para evitar complicar o desenho com vectores muito compridos a cruzarem-se.
O retrato de fase de um sistema autônomo de segunda ordem é uma representação gráfica do campo de direções, no espaço de fase a duas dimensões, mostrando os pontos fixos e algumas soluções que entram ou saem desses pontos.
Existem dois tipos de equações de segunda ordem que podem ser resolvidas analiticamente. O primeiro tipo são as equações lineares com coeficientes constantes, com a forma geral
onde , e são constantes, e tem alguma forma simples.
O segundo tipo de equação é a equação de Euler
As equações diferenciais autônomas de segunda ordem são as que não dependem explicitamente da variável independente. Podem ser reduzidas a duas equações independentes, de primeira ordem. A forma geral de uma equação autônoma de segunda ordem é:
se designarmos de a função , a equação passa a ser de primeira ordem
mas como há 3 variáveis nesta equação, ela não pode ser resolvida independentemente mas deverá ser resolvida juntamente com a equação . Um método mais simples, que não exige a resolução de duas equações em simultâneo, consiste em obter uma equação diferencial ordinária (unicamente duas variáveis), usando a seguinte substituição:
substituindo na equação, obtém-se
que é uma EDO de primeira ordem, com variável independente e variável dependente . Cada solução dessa EDO será uma função que representa em função da variável . Para calcular resolve-se a seguir
que é também uma equação autônoma, mas de primeira ordem.
A dificuldade deste método é que nem sempre é possível escrever as soluções da equação na forma explícita .
Na analogia mecânica, é a velocidade e a função na equação é a força resultante, por unidade de massa.
Se as funções ou , nos Sistemas de segunda ordem, dependessem do tempo, o sistema deixaria de ser autônomo.
No entanto o sistema pode ser convertido num sistema autônomo, considerando o tempo como mais uma variável de estado, e introduzindo uma equação diferencial trivial para a derivada de (a derivada de em função de é 1).
Outra forma em que um sistema pode diferir da forma padrão será se aparecerem derivadas de ordem superior.
Nesse caso as derivadas de ordem superior podem ser reduzidas a primeira ordem, introduzindo mais variáveis. Vamos ilustrar esses métodos para obter sistemas autônomos por meio de um exemplo.
Transformando o seguinte sistema num sistema autônomo:
Resolução: Se fosse também variável de estado, o sistema
seria autônomo; mas deveria haver uma equação de evolução para essa
nova variável de estado. Assim, introduzimos mais uma equação (trivial):
Assim, o sistema é equivalente a um sistema autônomo de terceira ordem:
O espaço de fase tem três dimensões.
Os métodos para resolver equações diferenciais estudados nas secções anteriores calculam o valor da solução a partir do valor da derivada num ponto inicial. Se a derivada no ponto inicial for infinita, o método falha. Quando o diagrama do campo de direções de um sistema, no plano , apresentar pontos onde o declive for vertical, os métodos numéricos falham nesses pontos. O problema pode ser resolvido introduzindo um parâmetro adicional, como é feito no exemplo seguinte.
Encontramos a solução do sistema:
Resolução: O estado inicial, , , conduz a uma derivada infinita; assim, não vai ser possível calcular a derivada no ponto inicial (3,0). Não será possível representar o campo de direções nesse ponto, e os métodos numéricos não poderão ser usados para calcular a solução.
Introduzindo um parâmetro adicional, , admitimos que as duas variáveis, e dependem de . A equação é equivalente ao sistema de equações